MORAR E ESTUDAR EM OUTRO LUGAR: uma leitura intercultural da experiência do estudante

Abstract

Este artigo analisa a experiência intercultural de uma doutoranda burundiana matriculada na Universidade Federal da Grande Dourados (Brasil), destacando os desafios, as desigualdades e os aprendizados decorrentes da mobilidade estudantil. A reflexão cruza um relato pessoal com as análises de Murphy-Lejeune (2003), Paige (1993), Rousseau (1755) e a noção de "dupla ausência" desenvolvida por Sayad (1999). A história começa com a descrição de preparativos complexos: a ausência de uma embaixada brasileira no Burundi, a necessidade de viajar para um país vizinho para obter visto, a dificuldade de acesso a dólares americanos e o alto custo das passagens aéreas. A chegada ao Brasil revela uma série de choques: um golpe em São Paulo, o medo generalizado alimentado por conselhos conflitantes, as dificuldades de chegar ao destino e uma sensação de vulnerabilidade. Na universidade, as desigualdades se manifestam na linguagem das aulas, nas plataformas digitais e no isolamento social, impondo aos estudantes estrangeiros as mesmas avaliações que aos locais. Essas situações ilustram a " desigualdade institucionalizada" evocada por Rousseau. Apesar de tudo, o apoio do meu orientador acadêmico, de alguns alunos e da administração permitiu uma resiliência gradual, fomentando a construção de uma identidade híbrida (Murphy-Lejeune, 2003). Essa experiência demonstra que a mobilidade estudantil é um teste de transformação, mas que requer políticas de acolhimento mais inclusivas.