DA VENTURA AO INFORTÚNIO E DO INFORTÚNIO A VENTURA: UMA LEITURA DO TRÁGICO NOS CONTOS “A GORDA INDIANA” DE MIA COUTO E “O RETRATO OVAL” DE EDGAR A. POE

Resumo

Ao definir o trágico, princípio antropológico e filosófico que se encontra em diversas formas artísticas e também na existência humana, o professor Patrice Pavis (1999), em Dicionário de teatro, chama a atenção para a necessidade de distingui-lo da tragédia, gênero literário que possui suas próprias regras. Contudo, o estudioso ressalta que é a partir das tragédias (das gregas às modernas) que melhor se compreende o trágico. O pesquisador britânico acrescenta ainda que a essência do trágico (se existe uma) só pode ser desvendada por meio de uma poesia, de uma representação ou de uma criação de personagens. Em linhas gerais, o trágico, mostrado primeiro em obras trágicas, é operado por heróis que existem plenamente no imaginário. Como é sabido, é na Poética, texto clássico de Aristóteles (2005), em que o filósofo grego classifica e analisa a estrutura das produções artísticas de sua época, além de estabelecer a primeira divisão entre os três grandes gêneros (épico, lírico e dramático). Destaca-se, desde então, que muitas características dos textos dramáticos estão presentes nos épicos, entre eles os princípios da tragédia como a fábula (reunião/arranjo das ações das personagens), a catarse e a verossimilhança. Nesse sentido, este artigo pretende fazer uma leitura comparada do trágico nos contos “A gorda indiana”, extraído da obra Contos do nascer da terra, do escritor moçambicano Mia Couto (2014) e “O retrato oval” do contista estadunidense Edgar Allan Poe (2009) a partir dos aspectos aristotélicos da fábula, em especial no que diz respeito a ventura e o infortúnio das personagens. 

Palavras-chave: Literatura Comparada. Literatura Africana. Tradição. Trágico. Mia Couto.