OS MOVIMENTOS FEMINISTAS E AS HASHTAGS
UMA ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DE SENTIDO EM ACONTECIMENTOS DISCURSIVOS NA REDE SOCIAL TWITTER
Palabras clave:
Discurso, Hashtag, Feminismo, Acontecimento discursivo, TwitterResumen
Muito se fala nos dias de hoje sobre a desigualdade de gênero, e um breve histórico das posições que as mulheres ocuparam na sociedade ao longo da história indica que este percurso sempre esteve acompanhado por lutas. O ano de 2015 foi marcado pela explosão dos movimentos feministas na internet, a chamada “primavera das mulheres”, como ficou conhecido este período, ocasionando um aumento da visibilidade das pautas feministas, notadamente por meio de protestos nas redes sociais. No Brasil, o marco desse “boom” foi o surgimento do movimento #meuprimeiroassédio, hashtag criada após o episódio de comentários com teor sexual, postados nas redes sociais por homens adultos a respeito de uma participante de um reality show, de 12 anos. Após a repercussão dos comentários, mulheres de todas as idades e lugares do país compartilharam episódios de assédio sexual sofridos durante sua infância e/ou adolescência. Após a repercussão da hashtag e também após se notar o tamanho da visibilidade que era possível de se alcançar levando as pautas dos movimentos feministas até as redes sociais, inúmeras outras hashtags foram criadas no intuito de expor e protestar contra as diferentes formas pelas quais o machismo afeta as mulheres. Partindo da ideia de que as hashtags promovem o encontro entre sujeitos no ambiente das redes sociais, na presente pesquisa elas são pensadas enquanto acontecimentos discursivos, podendo o objeto ser definido como as diferentes construções de sentido encontradas em acontecimentos discursivos ligados às pautas dos movimentos feministas, em particular no Twitter, sob a forma de hashtags como #MeuPrimeiroAssédio (2015), #MeToo (2017), #MeuAmigoSecreto (2015) e #NãoExisteEstuproCulposo (2019). Este trabalho tem como objetivo geral analisar posts publicados na rede social Twitter, usando as mesmas hashtags, a fim de identificar e analisar como diferentes sujeitos, ao produzirem discursos, possibilitam diferentes construções de sentido a respeito de um mesmo acontecimento discursivo. As justificativas deste estudo se assentam na necessidade de pesquisas que privilegiem as novas formas de discursos, os chamados “tecnodiscursos”, de modo a contribuir para a visibilidade e o avanço de pesquisas sobre os discursos sociais circulantes em torno da temática feminista. Como pressuposto teórico, esta pesquisa está embasada na análise do discurso francesa interessada pelos discursos digitais, a partir de autores como Pêcheux (1990), Rassi (2012) e Dela-Silva (2008), Orlandi (2010), Costa (2019), Silveira (2015) e Paveau (2021). O corpus da pesquisa é constituído por posts coletados no Twitter, segundo uma metodologia de seleção e organização dos textos, a fim de facilitar o processo de análise.
Citas
COSTA, Julia Lourenço. A mobilização da memória discursiva no movimento ciberfeminista: análise da hashtag #metoo. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), [S.L.], v. 48, n. 3, p. 1307-1328, 18 dez. 2019. Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo.
DELA-SILVA, Silmara Cristina. O acontecimento discursivo da televisão no Brasil:
a imprensa na constituição da TV como grande mídia. Tese (Doutorado). IEL, Unicamp, Campinas, 2008.
ORLANDI, Eni P. A contrapelo: incursão teórica na tecnologia – discurso eletrônico, escola, cidade. Revista Rua, Campinas, v. 2, n. 16, p. 6-17, nov. 2010.
PAVEAU, Marie-Anne. Análise do discurso digital: dicionário das formas e das práticas. Trad. e org. Júlia Lourenço Costa e Roberto Leiser Baronas. Campinas, SP: Pontes Editores, 2021.
PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. Eni Orlandi. Campinas, SP: Pontes, 1990.
RASSI, Amanda P. Do acontecimento histórico ao acontecimento discursivo: uma análise da “Marcha das Vadias”. Revista de História da UEG, Goiânia, v.1, n.1 p. 43-63, 2012.
SILVEIRA, Juliana da. Rumor(Es) E Humor(Es) Na Circulação De Hashtags Do Discurso Político Ordinário No Twitter. 2015. 211 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2015.