MEU NOME É CU-NEGUNDES: A COMÉDIA CAIPIRA NA TELENOVELA ÊTA MUNDO BOM!
Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar como é construída a comicidade a partir da análise de conteúdo da telenovela Êta Mundo Bom! (Rede Globo, 2016) escrita por Walcyr Carrasco. Para tal análise, será feito o cruzamento entre a dramaturgia e o referencial teórico sobre o riso com base nas teorias de Henri Bergson (2001), Mikhail Bakhtin (1987) e Vladimir Propp (1992). A partir da análise dos personagens Cunegundes, Eponina, Mafalda e Zé dos Porcos do chamado “núcleo caipira”, observamos que a telenovela espelha conceitos de humor apregoados pelos teóricos elencados - Bakhtin (1987), Bergson (2001) e Propp (1992), tais como a repetição, o rebaixamento, a associação com animais (quando um ser humano é associado a um bicho), a inocência, a comicidade verbal, muita confusão por nada (faz muitas ações que não levam a lugar nenhum), etc. A telenovela em foco apresenta um núcleo de personagens caipiras que está concentrado na fictícia Fazenda Dom Pedro II, com diversos tipos cômicos, tais como a personagem matriarca- a gananciosa Cunegundes, que é apelidada de Boca de Fogo, mas a mesma sempre corrige, dizendo: “Meu nome é Cu (Pausa) negundes!”. A escatologia, o duplo sentido e a sexualidade são temas presentes nesse núcleo, pois além da personagem Cunegundes, a jovem Mafalda, fica curiosa com o que acontece entre um homem e uma mulher após o casamento. As mulheres da família denominam o pênis do homem por cegonho. A moça passa toda a telenovela tentando encontrar uma forma de conhecer o cegonho. Outro exemplo quanto ao duplo sentido é quando a personagem Eponina se casa, e ao invés de na telenovela falar explicitamente que ela estava fazendo sexo com o marido, nesse momento, sempre o galo cantava e os personagens comentavam e brincavam com isso; já os personagens Quincas e Dita se referiam ao sexo como “a respiração boca a boca”. Observamos que a telenovela Êta Mundo Bom! aborda o sexo e os desejos sexuais pelo viés do duplo sentido na comédia. Através de metáforas como o canto do galo para simbolizar o ato sexual, e o cegonho para simbolizar o órgão masculino, é abordada a temática sexual no horário das 18 horas. Podemos fazer uma projeção, que provavelmente se esta telenovela fosse exibida no horário das 21 horas ou 23 horas, não teríamos essas metáforas, e perderíamos todas as situações criadas pela personagem Mafalda e seus familiares. Dessa forma, vemos que a dramaturgia de Walcyr Carrasco usou de uma engenhosidade presente na história da comédia, como os três teóricos categorizaram, e trouxe um riso caipira sexual no horário das 18 horas da Rede Globo. Assim, as limitações do horário permitiram potencializar a comicidade, através do jogo com metáforas sexuais.
Palavras-chave: Comicidade. Cultura Caipira. Telenovela.
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