IMAGENS FANTASMAGÓRICAS DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS NO CINEMA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Autores

  • Lígia Maciel Ferraz Graduada em Comunicação social — Cinema e vídeo (UNISUL) e mestre em Estudos Comparatistas (UL).

Resumo

Este trabalho busca analisar o caráter fantasmagórico das empregadas domésticas em quatro filmes brasileiros contemporâneos, a fim de perceber a construção imagética dessas figuras baseada numa invisibilidade visível. Para tanto, recorreu-se ao método comparativo, em que se relacionam filmes a partir de um eixo para analisar suas semelhanças e diferenças, e verificar os diálogos possíveis entre as obras. Os filmes Babás (2010), de Consuelo Lins, Do outro lado da cozinha (2013), de Jeanne Dosse, Que horas ela volta? (2015), de Anna Muylaert, e Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, exploram a figura da empregada doméstica como pessoas historicamente invisibilizadas. Nas quatro obras, uma mesma cena se repete: são apresentadas fotografias ou imagens de arquivo de babás com os filhos dos patrões em que elas se encontram ao fundo, na margem, sem seus rostos visíveis. Esse trabalho apoiou-se nas discussões de Débora Gorban (2012), Esther Peeren (2014) e Mariana Souto (2016) para compreender as relações entre patrões e empregadas domésticas, e analisar as imagens fantasmagóricas produzidas por tais relações no cinema brasileiro contemporâneo. A ideia de presença ausente, lançada por Gorban (2012), dialoga com uma noção de espectralidade que pode ser desenvolvida pelas empregadas domésticas que oscilam entre o visível e o invisível na relação diária com seus empregadores. Ao mesmo tempo que os patrões esperam que elas estejam sempre disponíveis para atender suas demandas, esperam que o façam de modo que não se perceba a sua presença. Além disso, segundo Peeren (2014), o termo "espectro" invoca algo que é visível e que provoca terror. Assim, a espectralidade abrange os fantasmas do passado que assombram o presente e também as assombrações dos fantasmas vivos que são produzidos no e pelo presente. O caráter fantasmagórico das imagens das empregadas domésticas nos quatro filmes analisados reforça que o passado colonial e escravocrata do Brasil ainda reverbera nas relações do presente entre as empregadas domésticas e seus patrões. Ao tirá-las da invisibilidade, cada filme parece buscar uma reconciliação com esse passado, sem deixar de evidenciar suas contradições.

 

Palavras-chave: Cinema comparado. Fantasmagoria. Empregadas domésticas.

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Publicado

2021-11-06

Como Citar

Ferraz, L. M. (2021). IMAGENS FANTASMAGÓRICAS DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS NO CINEMA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO. Cine-Fórum UEMS , 2(2). Recuperado de https://anaisonline.uems.br/index.php/cineforumuems/article/view/7621