ANIMAÇÕES E GUERRA FRIA: UMA RELEITURA DO CAPITALISMO EM “THE MILLIONAIRE” (1963)

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar os elementos que constituem a animação “The Millionaire”, produzida pelo estúdio soviético Soyuzmultfilm no ano de 1963. O produto cultural foi relançado em 1997 pela produtora norte-americana Films by Jove como um dos episódios da coletânea “Animated Soviet Propaganda: from the October Revolution to Perestroyka”. O objeto selecionado apresenta instigantes representações, como, por exemplo, o capitalismo, a política e as disputas do poder que compõem o mundo ocidental. A perspectiva abordada pelo estúdio tem um tom pejorativo, acentuando determinados segmentos da sociedade norte-americana. É importante mencionar o contexto da produção, quando as tensões entre os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas estão no auge da Guerra Fria. Prova disso foi a Crise dos Mísseis de 1962 em Cuba, um ano antes do lançamento da animação. É clara a presença da propaganda anticapitalista soviética que norteia a produção, uma vez que o estúdio moscovita está diretamente ligado ao Estado. Metodologicamente, conceitos como frequência, intensidade e ausência apresentados por Laurence Bardin (2002) foram essenciais para a análise do conteúdo. Além disso, o poder simbólico, a violência simbólica e dominação presentes em Pierre Bourdieu (1989) nos ajudaram a entender as disputas dentro desse campo específico. Os resultados encontrados pela pesquisa estão relacionados principalmente ao grau de diálogo entre as representações e a realidade vivida no contexto histórico da concepção da obra. Como podemos observar, após as análises concluídas, a animação tinha como objetivo principal demonizar a classe elitista ocidental e a sua relação com o acúmulo de capital, demonstrando assim a periculosidade que aquele sistema econômico fornecia aos seus adeptos e simpatizantes.

Palavras-chaves: Animação. Representação. Capitalismo. Guerra Fria.