A CRIANÇA EMPOBRECIDA E ABANDONADA NO CINEMA BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DO PERSONAGEM YGOR, DE CAMPO GRANDE (2016)

Resumo

O artigo tem como foco investigar a representação da criança empobrecida e abandonada no cinema brasileiro, a partir da análise fílmica do longa-metragem Campo Grande (2016), da diretora Sandra Kogut. O presente texto irá destacar, como objeto de estudo, o protagonista do filme, Ygor, um garoto de oito anos, a fim de discutir como o personagem infantil é construído, como ele compreende o mundo contemporâneo e reage a ele diante do contexto em que vive, no caso o de abandono pela mãe em meio a uma cidade grande. O objetivo do trabalho é entender se o filme dialoga com o imaginário social sobre a criança em ambientes de abandono, violência e empobrecimento. Para discutir o filme, que se enquadra no recente cinema de denúncia social produzido no Brasil e foi premiado em vários festivais de cinema ao redor do mundo, como Havana, Mar del Plata, Málaga e Rio de Janeiro, serão recortadas três cenas específicas envolvendo o protagonista Ygor. Assim, procuraremos investigar os modos de como a cineasta Sandra Kogut retratou Ygor, na sua relação tanto com a irmã pequena, Rayane, quanto com os adultos que o abrigam por alguns dias, uma mulher de meia idade chamada Regina, que está em processo de separação conjugal e vive com a filha em um apartamento de classe média em Ipanema, Rio de Janeiro. A justificativa para essa escolha gira em torno de um ponto específico: trazer luz para a abordagem da criança vista no cinema e assim contribuir para a pesquisa acadêmica na área de Comunicação e do audiovisual – de acordo com Qvortrup (2010), as Ciências Sociais vêm aprofundando estudos sociais sobre as crianças há menos de 20 anos, tomando-as como um “fenômeno social”. A metodologia será análise fílmica, em que se buscará, segundo Manuela Penafria (2009), explicar e esclarecer aspectos de funcionamento do filme quanto à construção do protagonista do longa-metragem “Campo Grande”. Para isso, faremos a decomposição de elementos visuais presentes, como enquadramento, som, planos, e da história em si. Para Manuela Penafria, a análise fílmica colabora para compreender a práxis cinematográfica, e por meio dela podemos recorrer a quatro formas de análise, que serão adotadas nesta pesquisa: análise textual (códigos visuais, como cores, formas, ou seja, a imagem em si); de conteúdo (tema); poética (sensações e sentidos que o filme provoca); e imagem e som (planos, enquadramentos, trilha, sons). No desenvolvimento teórico, haverá revisão bibliográfica específica sobre a construção social da infância (Ariés, 1981; Sirota, 2001; Sarmento & Gouvea, 2008); representação das crianças no cinema (Silva, 2009); análise fílmica (Penafria, 2009; Vanoye & Goliot-Lété, 2008); e cinema de denúncia social no Brasil (Gomes, 1996; Silva Junior, 2015).

Palavras-chave: Cinema brasileiro. Cinema de denúncia social. Representação. Infância. Análise fílmica