RESQUÍCIOS DO PATRIARCADO NAS RELAÇÕES FAMILIARES PRESENTES NA OBRA DOIS IRMÃOS (MILTON HATOUM)

Autores

  • Mariana Pessoa Universidade Tecnológica Federal do Paraná campus Pato Branco
  • Marcos Hidemi de Lima Universidade Tecnológica Federal do Paraná campus Pato Branco

Resumo

Neste artigo propomos efetuar uma análise literária com a intenção de verificar os resquícios patriarcais presentes nas relações familiares do romance Dois Irmãos (2000) do escritor brasileiro Milton Hatoum. Para tal finalidade, utilizamos o método qualitativo, que abrange uma gama de significações de cunho social, ideológico e bibliográfico. Nessa análise, levamos em consideração o conceito de Linda Hutcheon em Poética do Pós-modernismo (1991), sobre o espectro do passado na literatura, realçando os vínculos ideológicos e sociais deixados como herança de um passado sexista e misógino, que ainda reflete nas relações sociais, reverberando também na família. Dentro desta lógica familista, é possível identificarmos diversos traços da sociedade (semi)patriarcal brasileira, conforme descritos por Gilberto Freyre em Sobrados e mucambos (2013), que ainda permanecem na sociedade contemporânea. Tais marcas podem ser observadas nas figurações familiares do romance Dois Irmãos, assim como os diferentes tratamentos atribuídos a cada membro de acordo com o gênero, estando a mulher em frequente desvantagem em relação ao homem. Essa estrutura social homem/mulher é verificada por Mary Del Priore em Histórias e conversas de mulher (2013), que mapeia as relações sociais, familiares e o papel feminino na sociedade brasileira. Por uma perspectiva sociológica, a atuação feminina em nossa sociedade também é estudada por Rocha-Coutinho em Tecendo por trás dos panos (1994) atentando à influência que a mulher exerceu na esfera privada do lar, possibilitando-nos aplicar tais discussões neste romance. Essas questões destacadas aliam-se à revolução sentimental que permeou o casamento, especialmente em meados do século XX, trazendo conceitos de amor e liberdade para a escolha dos parceiros, caminhando paralelamente para o advento da família moderna, discutido por Elisabeth Roudinesco em A família em desordem (2003) onde ela articula sobre as mudanças da configuração familiar ao longo dos anos, sendo importante aqui especialmente o conceito da família moderna, que se desenvolve e muda durante o processo de industrialização brasileira (plano de fundo da narrativa em questão). No âmbito do romance de Hatoum, as reflexões dos autores elencados evidenciam que Zana a mãe, adquire o status de ‘rainha do lar’, exercendo grande influência nos membros da família, ao mesmo tempo em que Halim, o pai, perde o prestígio, tendo sua autoridade sob o lar reduzida. Dessa forma, por meio de Dois irmãos, observa-se uma composição familiar moderna, que alterna entre comportamentos de marcas ainda patriarcais (considerados em tese ultrapassados) e contemporâneos - tidos como mais democráticos na distribuição de papéis sociais entre homens e mulheres -, refletindo a própria sociedade brasileira atual.

 

Palavras-chaves: Análise literária. Família moderna. Resquícios patriarcais. Dois Irmãos.

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Publicado

2021-11-06

Como Citar

Pessoa, M., & Lima, M. H. de. (2021). RESQUÍCIOS DO PATRIARCADO NAS RELAÇÕES FAMILIARES PRESENTES NA OBRA DOIS IRMÃOS (MILTON HATOUM). Cine-Fórum UEMS , 2(2). Recuperado de https://anaisonline.uems.br/index.php/cineforumuems/article/view/7573