OUTRA FACE EM FRANKENSTEIN: CAPITÃO ROBERT WALTON SOB O OLHAR ECOCRÍTICO

Autores

  • Jaqueline Rodrigues da Silva Pereira Universidade Federal do Paraná – UFPR

Resumo

Este trabalho analisa a postura exploratória do navegador Robert Walton e o desequilíbrio que ela promove, numa perspectiva ecocrítica. Com o objetivo de examinar esta personagem do romance Frankenstein, ou o Prometeu moderno, de Mary Shelley, considerada por alguns pesquisadores uma figura sem tanto mérito, pretende-se demonstrar, a partir de suas ações na narrativa, uma potencial preocupação da autora com as questões de agravamento das condições ambientais, essenciais para a compreensão do contexto socioambiental da época, ou mesmo oferecer elementos para que o leitor contemporâneo repense seu papel enquanto agente social que precisa se comprometer com o bem comum. O desejo pela exploração da natureza e pelo domínio de terras nunca antes exploradas caracteriza a personagem. “Saciarei minha intensa curiosidade quando avistar uma parte do mundo nunca antes visitada, e talvez pise em terras onde antes homem nenhum deixou suas pegadas” (SHELLEY, 2012, p. 19-20). A metodologia utilizada nesta pesquisa se valeu da análise literária, por meio de pesquisa bibliográfica com autores que discutem a literatura e também a ecocrítica. Foram utilizadas obras do crítico literário Alfredo Bosi (2006), cujos materiais fundamentaram questões de literatura, textos de Fritjof Capra (1996) e de Greg Garrard (2006), que abordam, em seus trabalhos, questões ecológicas. Além destes, outros estudiosos se destacaram neste percurso, como o filósofo, psicanalista e ativista revolucionário francês Félix Guattari (1990), cujos estudos sobre ecosofia contribuíram para compor a análise da personagem em estudo. Conceitos discutidos por Leonardo Boff (1995), Michel Serres (1991) e Ernest Callenbach (2001), dentre outros também serviram de suporte teórico para este trabalho. A partir da atitude antropocêntrica e capitalista de Walton, de que o ser humano, nas mais diferentes épocas ou sociedades sempre esteve disposto a desbravar e a dominar a natureza a qualquer custo, verificou-se o quanto tais comportamentos são agressivos tanto para o meio ambiente quanto para os seres humanos, em toda sua constituição (física, psíquica e social) “O capitalismo mobiliza nos seres humanos uma capacidade de resolução de problemas que é sensato não subestimar” (GARRARD, 2006, p. 34). Para Garrard, os problemas ambientais enfrentados no planeta não são “causados apenas por atitudes antropocêntricas, mas decorrem de sistemas de dominação ou exploração de seres humanos por outros seres humanos” (2006, p. 47-48). Walton também demonstra uma postura fundada, por princípio, no controle de outros homens para dominar o meio natural ao se estabelecer nele como um ser superior, com a convicção de possuir total direito de exploração, assim como outros homens outrora o fizeram. Propõe-se assim, uma reflexão ecocrítica do romance acerca das consequências de atitudes antiecológicas como as de Walton (embora o termo seja anacrônico), para o agravamento das condições de vida no planeta.

 

Palavras-chaves: Frankenstein. Ecocrítica. Literatura.

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Publicado

2021-11-06

Como Citar

Pereira, J. R. da S. (2021). OUTRA FACE EM FRANKENSTEIN: CAPITÃO ROBERT WALTON SOB O OLHAR ECOCRÍTICO. Cine-Fórum UEMS , 2(2). Recuperado de https://anaisonline.uems.br/index.php/cineforumuems/article/view/7571