O SILÊNCIO DOS ESTEREÓTIPOS: CLARICE STARLING, UMA PERSONAGEM ESSENCIAL

Resumo

O trabalho aqui proposto, situado no entrecruzamento de literatura e cinema como artes narrativas, se destina a analisar alguns aspectos da personagem Clarice Starling — conforme retratada por Jodie Foster na versão cinematográfica de O silêncio dos inocentes (Silence of the lambs), de 1991, com roteiro de Ted Tally, baseado no romance de Thomas Harris, e direção de Jonathan Demme — que demonstram a sua singular força enquanto personagem de ficção e enquanto personagem mulher. Pretendo, tomando por empréstimo conceitos da construção literária e partindo da pesquisa bibliográfica de obras teórico-literárias pertinentes aos temas desenvolvidos, especificar alguns dispositivos que ilustram a maneira como a motivação e a vontade de Clarice, na condição de personagem dramática, protagonista e heroína, contêm potência suficiente para organizar e a ação em torno de si (CAMPOS, 2016; MACIEL, 2003; PALLOTTINI, 1989), em especial quando o avanço do enredo externo acompanha, em uma relação de tensão e interdependência, o aprofundamento do descortinar da questão essencial que a move em sua interioridade (BRASIL, 2019). Além disso, pretendo enfocar Clarice sob um recorte de gênero, ínsito à sua constituição ficcional e determinante de importantes reverberações na obra, e examiná-la como personagem mulher complexa, múltipla e livre de estereótipos ou reduções de sua personalidade ou objetivos (WOOLF, 2014), abordando também sua interação com outras personagens mulheres da obra, também sob o ângulo do teste de Bechdel-Wallace e de sua versão racial (BECHDEL, 2013; JOHNSON, 2009). A conclusão é pela consideração de Clarice Starling como uma excepcional personagem ficcional e protagonista mulher, harmonizando-se com a robusta fortuna crítica no sentido de que ela se constitui em uma perfeita heroína dramática do gênero thriller.

Palavras-chave: Estudos literários. Cinema. Personagem. Clarice Starling. O silêncio dos inocentes.