O NARRADOR EM QUARTO DE DESPEJO: A FALA DO SUJEITO MARGINALIZADO

Resumo

A proposta do artigo é apresentar a temática do narrador com base no texto de Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960) da escritora Carolina Maria de Jesus. O curso da natureza narrativa contido no texto de Carolina de Jesus leva-nos ao objetivo do estudo que é transitar entre a ideia de um sujeito marginalizado, deslocado, descentralizado (e por vezes fragmentado) em uma noção coesa de sociedade e cultura, uma vez que o conteúdo textual evidencia a latente discussão em torno da marginalização do sujeito excluído pela sociedade, tornando-o invisível dentro de seu contexto urbano, social e político. Partindo da categorização estruturalista de Gérard Genette no livro Discurso da Narrativa (1972), busco mostrar a complexidade envolta na narradora-autora que descortina não somente o trânsito entre os gêneros confessionais e autobiográficos, como também a voz de uma narrativa que traz à luz as nuances de uma organização social na qual muito se evidencia o entendimento de um sujeito descentralizado ou fragmentado em sua identidade social. De acordo com o sociólogo Stuart Hall no livro A identidade cultural na pós-modernidade (2015), o sujeito pós-moderno foi apartado da noção de unidade cultural, social e política, o que resulta numa ideia de sujeito plural e ao mesmo tempo contraditório. Na contramão dos avanços sociais, feministas e políticos intensificados na segunda metade do século XX, o discurso narrativo do texto caroliniano encontra-se à margem, o que parece resultar em aspectos textuais que apontam para uma evidente crise do sujeito e ainda por meio de um tipo narrativo não canônico, que é o texto diarístico/autobiográfico. 

Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus. Quarto de Despejo. O Narrador.