A NUDEZ DOS OUTROS: RUMINAÇÕES TAXONÔMICAS EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Resumo
Reconhecido pelo tratamento cerebral com o qual trabalhou a linguagem, João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é um dos poetas mais celebrados da literatura em língua portuguesa, em especial, da poesia brasileira do século XX. À margem das discussões centrais empreendidas pela crítica especializada, a presença dos animais não humanos na poética cabralina é objeto de análise deste estudo. Como resultado de sucessivas exclusões, o pensamento ocidental tem construído a ideia de humanidade a partir da separação entre homem e natureza, impondo entre eles uma barreira insuperável. Assim, entendida como espaço de encontro entre alteridades, a poesia apresenta-se como locus preferível para vislumbrar a fronteira entre o humano e o que escapa aos moldes dessa subjetividade, constituindo outros indissolúveis. Nesta análise, focalizamos o texto “Formas do nu”, poema seccionado em quatro seções e publicado no volume Serial (1961) no qual o sujeito poético constrói a dinâmica entre diferentes espécies (aranha, aruá, burro, cavalo e ser humano) com relação à nudez, desvelando os mecanismos de confronto ante essa experiência. Para isso, buscamos estabelecer diálogos com textos críticos sobre a poesia de Cabral (ARAÚJO, 2016; CANDIDO, 2002; PEIXOTO, 1983; SECCHIN, 2020) e a zoopoética (GOMIDES FILHO, 2011; MACIEL, 2016), além de reflexões acerca do animal e da animalidade (AGAMBEN, 2013; DERRIDA, 2002). No caso cabralino, embora as primeiras obras do poeta evidenciem a relação entre o não humano e a irracionalidade, identificamos, no decorrer das publicações, a transposição dos bichos para o local de pedagogos, com os quais poeta e homem podem aprender lições de composição e vivência.
Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto. Zoopoética. Animais. Nudez.
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