A HORA DAS ESTRELAS DE CLARICE LISPECTOR E SUZANA AMARAL
Resumo
Este artigo compreende uma breve análise comparativa entre a narrativa literária A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, e a tradução intersemiótica da novela clariceana, A hora da estrela (1985), de Suzana Amaral. A abordagem detém-se na interpretação de cenas da narrativa fílmica as quais intensificam significados presentes no código verbal ao mesmo tempo em que se alinha para o estudo do universo feminino apresentado em ambas as obras a partir de uma perspectiva da crítica literária feminista, concentrando a discussão na imagem da personagem Macabéa, principalmente no que tange a representação de seu corpo pela escritora e pela cineasta. No filme, Suzana Amaral se apropria da dupla metáfora da estrela presente na obra clariceana e constrói uma narrativa fílmica que, como a novela, se estrutura a partir de mecanismos metaficcionais, no caso, o código imagético, por meio da linguagem semiótica especifica do cinema, criando objeto estético novo. No que tange a sexualidade de Macabéa, hipócrita e reprimida, mas também exteriorizada, lascívia, ao apresentarem essa temática na representação da personagem, Clarice Lispector e Suzana Amaral desenvolvem obras transgressoras, as quais encontram respaldo em História da Sexualidade I: A vontade de saber (1976), de Michel Foucault. O corpo magro, privado de carne de Macabéa opõe-se politicamente ao corpo sexualizado da mulher brasileira. A personagem Glória, ainda que repleta de “atributos” se comparada a colega sem carne que tem sua glória somente com a morte, conferindo-lhe o atributo de estrela, corpo celeste e estrela de cinema, também representa uma política do corpo. Glória é filha de açougueiro, criada na carne, enquanto Macábea, corpo sem carne, deseja ser como Marilyn Monroe e pinta a boca de vermelho, borrando o batom para ocupar a boca carnuda que não possui. A analogia com a carne a partir das duas personagens é analisada nessa pesquisa através das elucidações de Foucault sobre como a carne, sob o prisma da tradição judaico-cristã, é relacionada com a origem de todos os pecados. E ainda para contemplar as proposições apresentadas nessa análise além das teorias da crítica literária feminista, o texto recorre às concepções de David Le Breton em sua A sociologia do corpo (1992).
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