O AMOR TEM CHEIRO DE MORTE
A REPRESENTAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NOS ROMANCES DE PATRÍCIA MELO
Palavras-chave:
Violência contra mulher, Denúncia feminina, Escrita feminina, O Matador, Mulheres EmpilhadasResumo
Este resumo apresenta o projeto de pesquisa, em andamento, cujo objetivo é analisar a violência contra a mulher nas obras O Matador (1995) e Mulheres Empilhadas (2019), da escritora Patrícia Melo. Pontuando as diversas violências reconhecidas como crime, como ocorre e, de que forma que a vítima é manipulada e conduzida pelo seu agressor. Esta pesquisa tem como perspectiva analisar a violência pelas relações de gêneros, buscando explorar a violência por diferentes vertentes e, a principal delas é o vínculo da violência nas relações afetivas. Apesar de as mulheres terem conquistado muito dos seus direitos, elas ainda não conseguem sair vivas de seus respectivos relacionamentos. Em O Matador (1995), é exposta a vida de Cledir, personagem vítima de feminicídio, entre outras violências, e da personagem Érica, amante que acaba sendo vítima também de um sistema opressor. Em Mulheres Empilhadas (2019), a autora expõe diversos casos de violência, com mulheres de várias etnias, idades e classes sociais. É uma denúncia feita em forma literária, uma obra ficcional, mas com base em personagens da vida real. Nessa trama densa e emocional, as mulheres são as protagonistas, diferente em relação às demais obras escritas por Patrícia Melo, onde os personagens centrais são homens e com narrativas em primeira pessoa. Para explicar a trajetória dessa luta do movimento feminista, que vem sendo discutida desde o século XVIII, é utilizada a teoria do filósofo Pierre Bourdieu, que, em sua obra A dominação masculina (2012), apresenta uma discussão sobre a dominação do gênero e a violência simbólica. Para esse filósofo, a diferença do sexo pelo fator biológico, entre o masculino e o feminino, é definido pela divisão de atividades. Já a violência simbólica “se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante (e, portanto, à dominação)” (BOURDIEU, 2012, p. 46). É uma forma natural, uma violência naturalizada. Para acrescentar ao aporte teórico, a escritora Heleieth I.B. Saffioti (1934-2010), socióloga brasileira, traz em seu texto Gênero, Patriarcado e Violência (2011), que a violência contra a mulher surge desde a divisão sexual do trabalho, e que a organização dessas atividades contribuiu para a desigualdade dentro da história, tendo o homem como principal agente dessa dominação e, que por fim, muitas mulheres reproduzem essas mesmas ideias, desconhecendo totalmente a dominação masculina e suas consequências. Saffioti (2011) evidencia, também, as relações de poder e privilégios estabelecidos pela sociedade devido à conotação política. As reflexões da socióloga consistem em críticas ao uso político pelo fator biológico. A violência sempre esteve presente na experiência humana, e ela é mais intensa quando ocorre pela perspectiva de uma mulher. A metodologia aplicada é de pesquisa bibliográfica com suporte teórico em alguns autores como Pierre Bourdieu (2012); Helleieth I.B Saffioti (2011); Tânia Almeida (2008) entre outros.
Referências
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BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Trad. de Maria Helena Kühner. 11.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012
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