SUPERMAN – ENTRE A FOICE E O MARTELO
UMA PROPOSTA DE LEITURA FENOMENOLÓGICA
Palavras-chave:
Fenomenologia, Arte, HQ, Linguagem, SignoResumo
O estudo da obra Superman: Entre a foice e o martelo busca demonstrar possibilidades de leitura e compreensão das histórias em quadrinhos (HQs) pautadas em teorias semióticas, narratológicas e de análise artística desse gênero. Nessa perspectiva, aspectos fenomenológicos inerentes à interpretação de texto são necessários. Assim, introduzindo elementos de estudos semióticos, Santaella (2017), ao definir a tríade peirceana, aponta que “Um dos fundamentos da teoria peirceana dos signos é que não só os signos externos, mas também as cognições, os pensamentos, as ideias e até o homem mesmo são signos. Como todo signo externo se refere a outros signos e objetos de signos externos, pensamentos e ideias também se referem a outros pensamentos, ideias e, com elas, a signos internos e externos” (SANTAELLA, 2017, p. 36). Sendo assim, as representações dos signos passam por processos entre o que são, significam e como significam. Essas seriam as três categorias universais dos signos de acordo com o modelo triádico peirceano. Ressalta-se que tal modelo apresenta diferentes divisões que se baseiam nos aspectos de primeiridade, secundidade e terceiridade. Cada uma delas se apoia em uma parte do modelo, sendo a primeira baseada no ponto de vista do signo (qualissigno, sinsigno e legissigno), a segunda nas variações do signo com seu objeto (ícone, índice e símbolo) e a terceira como sendo a pautada no ponto de vista do interpretante de um signo (rema, dicente e argumento). Uma análise pautada na semiótica peirceana possibilitará observar os signos constantes na HQ em estudo, categorizar quais elementos são considerados objetos singulares, quais são qualidades e quais podem ser considerados leis e, assim, inalteráveis para a compreensão da obra como um todo. A título de exemplo, cita-se o Superman que, a partir de seu nome, pode ser considerado um signo de primeiridade. Porém, ao alterar seu status quo, perde sua característica primária. Desse modo, há alterações em suas características iniciais e na forma como o interlocutor enxerga a função do herói na narrativa. Nesse sentido, a afirmação altera, portanto, a interpretação da obra em primeiridade, secundidade e terceiridade, partindo do pressuposto da significância do signo, de como ele significa e qual seu aspecto final. Outro ponto a ser esmiuçado no decorrer desta pesquisa concerne à narratologia e à fruição estética das obras de arte, ancorados em princípios teóricos de Eco (1978). A exemplo disso, observam-se seus conceitos de leitor-modelo e leitor-empírico, demasiado importantes para atrelar a interpretação da obra ao leitor considerado ideal. Tal aparato dialoga com a discussão acerca da legitimidade artística da cultura de massa enquanto representante dos valores da sociedade. Acredita-se que a obra em questão necessita de um leitor-modelo, aquele que não só conhece aspectos históricos e ideológicos das figuras constantes na obra, mas também compreende o poder de penetração de terminologias exercidas no universo do leitor. O leitor-empírico compreende as escolhas narrativas demonstradas tanto no capitalismo quanto no socialismo enquanto erros a longo prazo, mas o leitor atento, chamado de leitor modelo, perceberá uma falta de profundidade ideológica no processo de escrita. Isso suscita outra pergunta, que deverá ser respondida nesta pesquisa: o autor pode ser considerado um autor modelo para o assunto ou um autor empírico? Por último, para atrelar a análise à filosofia, a dialética hegeliana abordada na obra A fenomenologia do espírito, como mecanismo para se aprofundar a ideia de que a fenomenologia não serve “apenas” para se avaliar a linguagem, mas sim para que se retratem estados de espírito do leitor que em determinado momento se torna fruidor de uma obra. Ainda os aspectos quadrinhísticos servirão como base da análise da linguagem, do gênero textual e da arte de massa, aquela que se alimenta dos anseios sociais e serve de molde para travar discussões e variadas maneiras de compreensão.
Referências
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ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
NÖTH, Winfried, SANTAELLA, Lucia. Introdução à semiótica: passo a passo para compreender os signos e a significação. São Paulo: Paulus, 2017.
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VERGUEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto Elísio dos. (org) A linguagem dos quadrinhos. São Paulo: Criativo, 2015.