UM CONVITE AO BAILE DAS LOUCAS
LITERATURA, LOUCURA E PSICANÁLISE EM FOCO NO ROMANCE DE VICTORIA MAS
Palavras-chave:
Literatura, Mulheres, Histeria, França, La SalpêtrièreResumo
O objetivo da pesquisa é analisar o livro O baile das loucas, da escritora francesa Victoria Mas, a fim de refletir sobre o controle do corpo da mulher dita como louca. Pretende-se também investigar a representação da histeria no livro a partir da perspectiva da psicanálise. Para debater o tema, algumas leituras se tornam essenciais, entre elas, os livros: Shoshana Felman e a coisa literária: escrita, loucura, psicanálise, organizado por Lucia Castelo Branco (2020); A história da Loucura: na idade clássica, de Michael Foucault; A invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica da Salpêtrière, de Georges Didi-Huberman; Estudos sobre a histeria, de Sigmund Freud. O cenário da história é o famoso hospital La Salpêtrière, onde o médico Jean-Martin Charcot realizava seus estudos e experiências com mulheres com problemas neurológicos. Em primeiro plano, a história narra um período do ano de 1985 na vida de Geneviève, uma enfermeira-chefe do hospital La Salpêtrière. Sendo a intendente mais antiga no hospital, Geneviève já viu de tudo, conheceu diversas mulheres diagnosticadas com histeria, melancolia, mania, loucura, e sempre se manteve firme como deveria ser seu papel, não se envolvendo tanto e não questionando nenhum tipo de tratamento realizado nas mulheres. No entanto, a situação muda quando chega uma nova alienada no local, Eugénie, uma menina jovem que foi internada às pressas pelo pai. Esse encontro muda a percepção que Geneviève sempre teve, uma percepção rígida atrelada à ciência, e começa a questionar tudo em que acreditava. Em segundo plano, conhece-se outras internas e seus motivos para estarem internadas. Ademais, são apresentadas as experiências do Dr. Charcot com as mulheres e acompanha-se o dia a dia para os preparativos do grande baile do La Salpêtrière, um evento anual em que a burguesia parisiense visitava a instalação para divertir-se bailando com as mulheres alienadas. Este romance retrata, ainda, uma parcela do que era a condição feminina no século XIX, na qual os corpos das mulheres loucas eram usados em experiências por médicos, não sendo vistas como mulheres com vontade e inteligência. Tal como seguiu-se por séculos a imagem da histeria atrelada somente às mulheres, que, em qualquer movimento mais brusco ou tomada de posição, já era visto como uma rebeldia, como uma loucura ou como um sintoma de histeria. A marca da mulher histérica se consolidou na literatura e nas artes, bem como no imaginário da sociedade e, apesar disso, falar sobre a condição psiquiátrica de uma mulher adoecida ainda é, nos dias de hoje, um tabu. Por isso, é importante que se fale sobre o assunto, a fim de explorarmos esta questão além do estereótipo da mulher enlouquecida.
Referências
BRANCO, Lucia Castello (Org.). Shoshana Felman e a coisa literária: escrita, loucura, psicanálise. Belo Horizonte: Letramento, 2020.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica da Salpêtrière. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: MAR/Contraponto, 2015.
FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 1997.
MAS, Victoria. O baile das loucas. Tradução Carolina Selvatici. 1. ed. Campinas: Verus, 2021.
SIGMUND, Freud; BREUER, Josef. Obras completas, volume 2: Estudos sobre a histeria (1893 – 1895). Tradução Laura Barreto. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.