REPRESENTAÇÃO E RECORDAÇÕES DA MALANDRAGEM EM MEMÓRIAS DE MADAME SATÃ, DE SYLVAN PAEZZO
Palavras-chave:
Malandro, Memória, Madame Satã, Rep´resentação, Literatura BrasileiraResumo
A proposta da nossa dissertação é analisar a obra intitulada Memórias de Madame Satã (1972), de Sylvan Paezzo, na qual o protagonista narra a sua história para o próprio jornalista Sylvan Paezzo. João Francisco dos Santos, apelidado de Madame Satã, enfrentou o racismo e o preconceito por ser negro, artista e transexual. Por ter um gênio forte e não tolerar piadas preconceituosas e difamatórias, envolvia-se em diversas brigas, dentre as quais permanecia preso por longos períodos, circunstâncias essas que o intitularam como malandro. Considerando esses aspectos, o objetivo proposto é de analisar a representação do malandro no livro Memórias de Madame Satã (1972), de Sylvan Paezzo, identificando a construção da personagem, as memórias e sua representação na sociedade brasileira como malandro, artista e pessoa. O interesse e a escolha pelo objeto de pesquisa, se dão pelo fato da grande representatividade de João Francisco e Madame Satã na cultura brasileira e na literatura marginal. Os artigos encontrados durante o estudo sobre a obra não analisam a narrativa pela vertente
malandresca, o que traria o aspecto de originalidade a pesquisa. Por se tratar de um
livro já analisado pela linha cinematográfica, transformado em filmes e séries, também houve a curiosidade em refletir sobre os atos da malandragem no constructo da personagem Madame Satã. Ademais, uma vez que João Francisco se define como um malandro, que sobreviveu às mazelas da sociedade, denunciando preconceitos racial, social, de gênero e cultural, sua importância na cultura brasileira transcende livros, documentários e filmes. Como malandro, desenvolveu características próprias e inéditas para as definições de malandragem descritas pelos teóricos como Antonio Candido (1970) e Roberta DaMatta (1997). Na obra de Paezzo, apresentam-se teorias da malandragem, da autobiografia, da biografia, da representação e da memória, ainda pouco investigadas. Assim, a pesquisa irá contribuir para o aprofundamento dessas análises segundos as teorias já mencionadas, mas ampliando e difundindo a obra e o nome de João Francisco, com o desejo de fornecer-lhe reconhecimento, legitimação e o salvaguardando como grande artista de seu período. A dissertação está dividida em três capítulos: o primeiro visa a discorrer sobre a malandragem, tendo como subtópicos a marginalidade, as teorias tradicionais e as novas perspectivas críticas de análise, baseadas nos teóricos Antonio Candido (1970), Roberto Da Matta (1997), Giovanna Dealtry (2009), Roberto Schwarz (1987), dentre outros. No segundo capítulo, será analisada a construção da memória e sua representação, tendo como críticos iniciais Maurice Halbwachs (2013), Pierre Nora (1978), Zilá Bernd (2017), Le Goff (1990) e Joël Candau (2019). O último capítulo analisa trechos da obra pelas teorias de biografia e autobiografia, com o objetivo de identificar o gênero literário predominante, com base nos teóricos Le Goff (1990), Philippe Lejeune (2017), Lilian Schwarcz e Heloisa Starling (2018). Desse modo, a dissertação encontra-se na fase de levantamento dos textos referências do primeiro capítulo e no início da escrita deste, tendo como resultados parciais a submissão de um artigo em revista, e comunicações realizadas em eventos nacionais e internacionais.
Referências
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