THOMAS BERNHARD: DA FINITUDE À REPETIÇÃO

Resumo

Este trabalho propõe uma leitura da obra do escritor austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), em especial do livro O náufrago (1983), a partir das noções de repetição e finitude. Os textos de Bernhard se caracterizam, entre outros aspectos, pela tematização da morte, notoriamente do suicídio, e pelo uso do recurso formal da repetição. Procuramos mostrar que a associação desses dois elementos está relacionada a uma interpretação tipicamente bernhardiana da vida, em que prevalecem o pessimismo e a percepção de que a existência é desesperadora. Em nossa pesquisa, nos valemos especialmente dos estudos de Santos (2020), Flory (2006), Cousineau (2001) e Frantzen (2017), bem como dos textos autobiográficos de Bernhard reunidos no Brasil sob o título Origem (2006). Em um primeiro momento, nos debruçamos sobre alguns momentos-chave da vida pessoal e da trajetória literária de Bernhard, com o intuito de indicar como o escritor se aproxima do tema da morte. Isso é importante pois, como a crítica vem assinalando, autor e narrador se confundem na obra bernhardiana. Em seguida, recuperamos brevemente o enredo de O náufrago e ressaltamos as principais características dessa obra. Posteriormente, focamos os temas da repetição e da morte a fim de indicar como eles se associam na obra de Bernhard como um todo e em O náufrago em particular. Ao final, defendemos que o uso da repetição nos textos desse autor vincula-se à ideia de que a vida é uma cadeia de repetições da qual já se conhece o desfecho trágico, isto é, a morte. Além disso, assinalamos a importância do fazer literário como mecanismo de relativa salvação na obra de Bernhard.

Palavras-chave: Thomas Bernhard. O náufrago. Literatura austríaca. Morte. Repetição.